Catherine Kieu, após saber que seu marido queria o divórcio, drogou o companheiro, amputou seu pênis com uma faca de cozinha e jogou o órgão numa lixeira. A plateia do programa “The Talk” recebeu a notícia com risadas quando as apresentadoras comentaram o crime em julho de 2011.
Uma delas diz: “Eu
não sei as circunstâncias. Eu não sei porque ele pediu o divórcio. Eu não sei o
que se passava entre eles, entretanto achei fabuloso.” Dessa vez, a plateia
gargalha histericamente.
Isso não ocorreu numa conferência
nacional de psicopatas. Foi exibido em rede nacional pela CBS (um dos três
maiores canais televisivos americanos) à tarde.
Pensemos no contrário. O marido de Catherine Kieu, ao saber de intenções de divórcio, drogou a esposa, amputou o clitóris com uma faca de cozinha e jogou numa lixeira. Em seguida, em rede nacional, um apresentador diz que não sabe quais os motivos, mas que foi fabuloso. Imagino se a plateia acharia tão engraçado agora.
Alguém nota certa assimetria no
que é considerado sexismo?
No Brasil, a Bombril exibiu uma série de comerciais (também em 2011), referindo-se ao homem como “praticamente um cachorro”, merecedor de adestramento e “jornalada na fuça”. Segundo o mesmo texto, as mulheres são seres superiores e evoluídos.
O CONAR (Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária) arquivou o processo sobre o comercial. Em
2010, o mesmo órgão proibiu uma propaganda da cervejaria Devassa em que Paris Hilton
aparece dançando com uma lata de cerveja.
Fica a pergunta: quando o
feminismo deixou de representar uma luta por direitos iguais entre gêneros e se
associou à propagação de ódio aos homens e em protecionismo cego às mulheres?
O movimento teve destacadas
conquistas históricas em muitos países, como direito ao voto, ao divórcio,
liberdade sexual e equidade no mercado de trabalho. Ainda hoje, feministas
lutam por causas admiráveis, chamando a atenção da sociedade para crimes como
estupro e a violência doméstica. Infelizmente, boa parte dos feministas quer
transformar a luta por direitos iguais na abominação ao homem e na exaltação de
valores arbitrários.
Chegamos ao cúmulo de vermos mães
sendo condenadas por comprarem adereços cor de rosa ou bonecas para suas
filhas. O Grupo Ferrero, em 2013, após realizar pesquisas de mercado, dividiu
seus ovos de páscoa (Kinder Ovo) em segmentos: um para meninos e outro para
meninas, com brindes e cores preferidos por esses consumidores. Foram
boicotados pela página “Moça, você é machista”, que conta com mais de 300 mil
seguidores no Facebook. Também foi feito um abaixo-assinado virtual e
organizada uma passeata repudiando o produto.
Os eventos citados ao longo do
texto não são apenas bizarros, como também projetam uma imagem ruim do feminismo
perante a sociedade. Sob a alcunha de feministas, passamos a associar
Inquisidores de Kinder Ovo àqueles que combatem a violência contra a mulher.
Associar as campanhas de prevenção ao câncer de mama com aqueles que consideram
as donas de casa mulheres submissas e incapazes. É o momento em que pessoas
sensatas passam a torcer o nariz quando escutam a palavra “feminismo”.
Assim, pelo bem dos movimentos
legítimos, é razoável pensar que seria benéfico abandonar essa bandeira
unificadora. Muitos apoiam a luta pela saúde da mulher, os direitos (e deveres)
iguais entre os sexos e o combate a violência doméstica. Poucos apoiam a
mutilação genital, desprezo aos homens e guerra aos ovos de chocolate
coloridos. O que os feministas ganham com a força gerada pela união, perdem
pelo repúdio às correntes menos lúcidas do movimento.
Sim, eu estou falando em acabar
com o feminismo. Reivindicações inegavelmente benéficas, como atenção pré-natal
adequada, não precisam se amparar num guarda-chuva maior para ter credibilidade.
Especialmente, quando esse mesmo guarda-chuva é usado por parentes duvidosos. É
como misturar vinagre a um bom vinho numa só garrafa e dar a esse conjunto um único
rótulo.
Advogado do Diabo
Posições controversas pelo bem do debate.
Referências
- Melissa Blais and Francis Dupuis-Déri. "Masculinism and the Antifeminist Countermovement." Social Movement Studies: Journal of Social, Cultural and Political Protest 11:1 (2012): 21-39
- http://masculinismo.org/2011/04/11/bombril-e-suas-mulheres-evoluidas/
- http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/03/kinder-ovo-cria-ovo-diferente-para-meninos-e-meninas-e-e-chamado-de-sexista.html
- http://reason.com/archives/1994/07/01/man-troubles
- http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1510680-9356,00-CONAR+SUSPENDE+VEICULACAO+DE+PROPAGANDAS+DA+CERVEJA+DEVASSA.html
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