domingo, 16 de fevereiro de 2014

Desconstruindo o feminismo

Catherine Kieu, após saber que seu marido queria o divórcio, drogou o companheiro, amputou seu pênis com uma faca de cozinha e jogou o órgão numa lixeira. A plateia do programa “The Talk” recebeu a notícia com risadas quando as apresentadoras comentaram o crime em julho de 2011.

Uma delas diz: “Eu não sei as circunstâncias. Eu não sei porque ele pediu o divórcio. Eu não sei o que se passava entre eles, entretanto achei fabuloso.” Dessa vez, a plateia gargalha histericamente.

Isso não ocorreu numa conferência nacional de psicopatas. Foi exibido em rede nacional pela CBS (um dos três maiores canais televisivos americanos) à tarde.




Pensemos no contrário. O marido de Catherine Kieu, ao saber de intenções de divórcio, drogou a esposa, amputou o clitóris com uma faca de cozinha e jogou numa lixeira. Em seguida, em rede nacional, um apresentador diz que não sabe quais os motivos, mas que foi fabuloso. Imagino se a plateia acharia tão engraçado agora.


Alguém nota certa assimetria no que é considerado sexismo?

No Brasil, a Bombril exibiu uma série de comerciais (também em 2011), referindo-se ao homem como “praticamente um cachorro”, merecedor de adestramento e “jornalada na fuça”. Segundo o mesmo texto, as mulheres são seres superiores e evoluídos.



O CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) arquivou o processo sobre o comercial. Em 2010, o mesmo órgão proibiu uma propaganda da cervejaria Devassa em que Paris Hilton aparece dançando com uma lata de cerveja.




Fica a pergunta: quando o feminismo deixou de representar uma luta por direitos iguais entre gêneros e se associou à propagação de ódio aos homens e em protecionismo cego às mulheres?

O movimento teve destacadas conquistas históricas em muitos países, como direito ao voto, ao divórcio, liberdade sexual e equidade no mercado de trabalho. Ainda hoje, feministas lutam por causas admiráveis, chamando a atenção da sociedade para crimes como estupro e a violência doméstica. Infelizmente, boa parte dos feministas quer transformar a luta por direitos iguais na abominação ao homem e na exaltação de valores arbitrários.

Chegamos ao cúmulo de vermos mães sendo condenadas por comprarem adereços cor de rosa ou bonecas para suas filhas. O Grupo Ferrero, em 2013, após realizar pesquisas de mercado, dividiu seus ovos de páscoa (Kinder Ovo) em segmentos: um para meninos e outro para meninas, com brindes e cores preferidos por esses consumidores. Foram boicotados pela página “Moça, você é machista”, que conta com mais de 300 mil seguidores no Facebook. Também foi feito um abaixo-assinado virtual e organizada uma passeata repudiando o produto. 

Os eventos citados ao longo do texto não são apenas bizarros, como também projetam uma imagem ruim do feminismo perante a sociedade. Sob a alcunha de feministas, passamos a associar Inquisidores de Kinder Ovo àqueles que combatem a violência contra a mulher. Associar as campanhas de prevenção ao câncer de mama com aqueles que consideram as donas de casa mulheres submissas e incapazes. É o momento em que pessoas sensatas passam a torcer o nariz quando escutam a palavra “feminismo”.

Assim, pelo bem dos movimentos legítimos, é razoável pensar que seria benéfico abandonar essa bandeira unificadora. Muitos apoiam a luta pela saúde da mulher, os direitos (e deveres) iguais entre os sexos e o combate a violência doméstica. Poucos apoiam a mutilação genital, desprezo aos homens e guerra aos ovos de chocolate coloridos. O que os feministas ganham com a força gerada pela união, perdem pelo repúdio às correntes menos lúcidas do movimento. 

Sim, eu estou falando em acabar com o feminismo. Reivindicações inegavelmente benéficas, como atenção pré-natal adequada, não precisam se amparar num guarda-chuva maior para ter credibilidade. Especialmente, quando esse mesmo guarda-chuva é usado por parentes duvidosos. É como misturar vinagre a um bom vinho numa só garrafa e dar a esse conjunto um único rótulo.



Advogado do Diabo


Posições controversas pelo bem do debate.

Referências



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